Foi anunciado pela International Meal Company, proprietária das redes Viena e Frango Assado, a vinda do restaurante Americano Red Lobster para o Brasil. A rede, que possui 700 restaurantes nos EUA e Canadá, fatura 2,6 bilhões de dólares e é mais um player internacional que vai buscar seu espaço no país.
A chegada de mais uma grande rede de restaurantes mantém o movimento iniciado por players como Outback, Applebee’s, Hooters e outros. Essas marcas têm conseguido bons resultados com suas operações brasileiras e a tendência é uma expansão mais agressiva no curto prazo. O Outback possui hoje 52 unidades no Brasil e vem de uma acelerada abertura de novas lojas. Em 2013 foi inaugurada a o segundo Outback na Bahia e três no interior de SP. Em 2014 só a cidade de Belo Horizonte recebe duas novas unidades. Outras grandes redes também chegaram ao país nos últimos anos, como Burger King, Starbucks, KFC (que havia tentado nas décadas de 70 e 90, e após o fracasso retornou em 2009) e Subway.
Além da Red Lobster outras gigantes da área de alimentação planejam sua entrada no Brasil. Entre as marcas estão Planet Hollywood, Wendy’s, Cheesecake Factory e outras que estão retornando, como Dunkin’ Donuts e TGI Friday’s. O que podemos esperar para esse segmento e o que motiva a vinda de tantos players internacionais?
Para entender o futuro temos outros segmentos que podem indicar para onde o mercado vai. A entrada de companhias globais é uma tendência antiga e já ocorreu aqui em vários segmentos, como supermercados, veículos, bens de consumo não duráveis e vestuário. Todos esses segmentos compõe um cenário que podemos esperar para o mercado de restaurantes, mas considero que o vestuário é um bom exemplo dos impactos tanto para os entrantes quanto para os players atuais.
O que motiva a vinda de companhias globais para o país é simples: temos um mercado consumidor enorme e que desde o início do plano real veio ganhando poder de compra. Hoje somos um país voltado para o consumo, pilar que segurou nossa economia durante a crise. O baixo desemprego, o aumento da renda e os incentivos sociais e tributários do governo fortaleceram nosso mercado interno e nos tornou muito atrativo. Para alguns segmentos a atratividade veio primeiro, como o mercado de automóveis, higiene pessoal, cosméticos e moda. Agora os restaurantes vêm em peso.
Quando uma empresa decide atuar em um país ela não necessariamente precisa levar sua marca, pode se tornar sócia ou se apropriar de marcas locais. Por tanto, o que alimenta um mercado recheado de marcas globais não é só o poder de consumo, mas o comportamento do consumidor. É a união do cenário econômico com o comportamento do consumidor que cria esse boom de marcas globais em quase todos os segmentos.
Cada vez mais exigente o consumidor brasileiro quer comprar bons produtos. Hoje, com a circulação da informação e a facilidade de ir ao exterior, as marcas internacionais já são conhecidas no país, mesmo que não tenham uma operação local. Esse cenário abriu as portas para as marcas de moda da década de 90 e mudou a cara do nosso mercado. Vimos algumas marcas como Company, Vide Bula e Zoomp perderem mercado com os novos entrantes. Temos muitas marcas com um posicionamento frágil que não se sustentaram e chegaram a encerrar operação. A Company saiu do mercado, a Vide Bula paralisou suas atividades em 2009 e foi vendida posteriormente. A rotatividade de tendências nesse segmento é comum, mas é inegável que as marcas brasileiras sofreram muito nos últimos anos.
A entrada de grandes players internacionais, com know how do segmento, poder de negociação e capacidade de investimento tornam o mercado muito mais competitivo e até mesmo profissional. Não se sustenta sem estratégia bem definida e um produto com apelo para o cliente.
O que aprendemos com o segmento de moda é que os fortes não só sobrevivem, como crescem. É o caso de Osklen, Brooksfield, Animale, Dudalina e Ellus. Com posicionamento de marca forte se consolidaram no mercado nacional e chegaram inclusive a uma expansão internacional, caso da Osklen.
Quando falamos de restaurantes, vejo o mercado fragmentado, com empresas fortes em uma determinada região mas pouco alcance nacional. Temos boas redes de fast-food espalhadas no país (que terão concorrência cada vez maior), mas poucos restaurantes com serviços que atuam em várias regiões. A churrascaria Fogo de Chão é um exemplo. A rede possui 24 lojas nos Estados Unidos e apenas 9 no Brasil. Mesmo sendo uma das principais marcas do país, consolidada nos Estados Unidos, sua presença por aqui ainda é tímida.
No mercado de alimentação fora de casa os desafios serão grandes, assim como as oportunidades. Para quem chega de fora é preciso se adaptar ao mercado local se não quiser voltar para casa, como aconteceu no passado. A qualificação que estes players internacionais trazem nivela por cima a expectativa do cliente, o que exigirá mais das empresas brasileiras.
A tendência é que grandes redes de restaurante dominem o país. É preciso entender o consumidor, ter uma estratégia inteligente e agressividade comercial para conquistar esse mercado.